segunda-feira, 31 de outubro de 2011

o que poderia ter sido e não foi: poema sobre Paulo Autran

Paulo Autran
seria um dos retratos falados do livro.
Mas não consegui escrever
o poema.
Abaixo,
o escaner do rabisco.

rascunhos de Retratos Falados (1)

"retratos falados" na livraria da vila

Boa nova que meu querido editor traz.


lançamento em São Paulo

Lançamento do livro Retratos Falados, dia 21 de setembro, em São Paulo, na casa das Rosas. Estou na mesa com o poeta Frederico Barbosa, que mediou o lançamento duplo, dividi a noite com o amigo e poeta mineiro Ronaldo Cagiano.



data lançamentos

João Pessoa - quinta dia 10/11/2011 - Casarão 34, a partir das 19h30
Campina Grande - sábado dia 12/11/2011 - Sebo Cata-Livros, a partir das 9h30.

poemas dos vídeos

Agradeço a sugestão da amiga Nara Limeira,
transcrevo aqui os poemas que declamei nos vídeos.
Abraço

Bob Dylan

Era uma vez um trem e não havia a bordo
alma alguma e ao mesmo tempo o mundo todo.
Fui o clown branco. Fui amanhã. Fui morto.
Meu nome é multidão e isso é tão pouco.
Ao que as estrelas escreverem, preferir o oposto.
O tempo pisa nos seus próprios ombros.
Três por quatro de um artista enquanto. O corvo
2
é minha voz, o corvo é meu refrão, meu coro.
Um calendário de ladeiras, os meus olhos.
Eletrifico não haver espelhos, nem ter composto
só um final para minha sombra. Sobre
este risco, o equilíbrio é o que não escolho.
O vento feito de perguntas. A uma, não respondo:
com quantas pedradas se chega a um r osto?

Robert Johnson

Estou de costas. O que toco é onde plugo
minha dor. Em mal contato o mundo. Com urros
arrumo minha guitarra. O escuro, eu o dublo,
me encontrou a encruzilhada. Cubro
de chão meu olhar. Minha sombra subo,
a lua é em blue note se em cima estou dos túmulos.
Meu nome é multidão e o que eu construo
2
tem parte com o impossível. Um súcubo,
com olhos de duplicata, peçonha em útero
pousou na minha sorte. Um scotch e o escuro
abrem um trem que vai de Chigaco rumo
ao rock, rumo às tuas três fotos, rumo
aos outros finais com infinitos dentro. Tudo
não está pronto, caroável. E se refaz meu número.

ROBERTO BOLAÑO

O Chile haverá onde os meus pés. O desert o
é que todas as placas são de volta. Deixo
meus rascunhos de um mapa para o inferno.
O tráfico de exílios. O em prego
de vigia num camping da ilha de Lesbos.
A América Latina em super oito. O chão que Cérbero
mijou, onde eu dormi. Meu próprio féretro
2
a caminho enquanto em casa escrevo.
Meus demônios não têm cartão de crédito.
O México. O México. O México. O México.
Minha poesia fecha as ruas do comércio.
Meu caderno de oficinas. Os meus inédit os
enrolando baseados. Não, não há remédio.
Ser ator e alheio ao corrido do próprio bolero.

domingo, 30 de outubro de 2011

retratos falados em vídeo - Roberto Bolaño

Prefácio de “Retratos Falados”


Braulio Tavares

 
Assim como um caricaturista capta com o olhar os traços mais característicos de um rosto e depois os reconstrói e amplia com a caneta, um poeta é capaz de produzir retratos que são distorcidos mas verdadeiros – pelas escolhas verbais, pelas imagens, pelo modo de projetar a subjetividade-que-escreve sobre a objetividade de um personagem público.  São assim os Retratos Falados que Astier Basílio reúne neste volume, onde bluesmen, jogadores de futebol, escritores, repentistas, etc. passam por uma espécie de Raio-X poético, revelando detalhes que existem neles e que nós na primeira vez vemos sem ver; só vemos de verdade quando os reencontramos no poema.

É assim que o poeta enxerga em Ronaldo Fenômeno algo de “puma e rifle” e vê em Joe Cocker o “cavalo” de algum “exu ou súcubo”;  vê na lenda misteriosa de Robert Johnson “outros finais com infinitos dentro”, e faz Roberto Bolaño vislumbrar “meu próprio féretro a caminho enquanto em casa escrevo”. Conhecer os retratados implica em perceber as sutilezas visuais, psicológicas ou biográficas captadas pelo poeta.  Não conhecê-los, no entanto, não redunda em prejuízo para o leitor, que pode se dedicar a ver o poema como só poema, como a única porta possível naquele momento para tentar captar a essência de um personagem por trás de um nome desconhecido.

Essa poética da captação da dinâmica poética do real foi uma das boas heranças que João Cabral de Melo Neto deixou em nossa poesia, ensinando-nos a ver a semiótica essencial das coisas, o seu modo de dizer-se sendo.  Herdamos o modo como Cabral comparava o mar ao canavial, ou as casas nordestinas aos sepulcros.  Cabral também justapõe poéticas distintas em O sim contra o sim, como parte desse trabalho de tentar captar, com invenções verbais, coisas que o olho percebe mas o cérebro só acusa quando o verso espouca.

Astier Basílio organiza de modo interessante sua coleção de retratos poéticos, começando pelos mais recentes e mais elaborados, e somando a eles, numa segunda parte, uma outra série, de formatos variados, de poemas antigos em que o método já se esboçava.  Retratos de amigos ou colegas de profissão fazem parte do ofício, e todo poeta coleciona os seus (Drummond em Viola de bolso, Bandeira em Mafuá do malungo...).  As Chapas e Instantâneos da 2ª. parte (poemas escritos entre 2005 e 2009) se propõem como coisa passada, a começar por estes dois termos meio fora-de-moda para designar “fotografias”.  São esboços de quando o poeta, seguindo os passos dos mestres, rascunhava seus retratos em métrica aleatória ou emprestada.  Um trabalho que foi se organizando a si próprio até redundar nos dezesseis poemas da primeira parte, de 2010-2011, em que a forma ideal se cristalizou: duas estrofes de sete linhas longas, de métrica irregular, com rima toante única do começo ao fim. 

Astier Basílio tem uma jurisdição poética que o torna capaz de visualizar com a mesma facilidade o “clown branco” em Bob Dylan e o “transe com cronômetro” de Ivanildo Vila Nova; de anotar com palavras precisas os “coágulos de azul” de Bispo do Rosário e a “sede que ninguém vence” em Manuel Xudu.  De Bergman a Eric Clapton, seus cliques poéticos pegam sempre o fotografado num ângulo em que já o vimos mas não registramos.  São poemas eminentemente descritivos, mas com uma liberdade imagética quase surrealista, de grande subjetividade.  A tal ponto que o retrato torna-se uma parceria indissolúvel entre fotógrafo e fotografado, do mesmo modo como muitos retratos na história da pintura dizem mais sobre o artista que os pintou do que sobre os reis, hoje anônimos, que posaram para eles.

retratos falados em vídeo - Robert Jonhson

retratos falados em vídeo - Bob Dylan

Amigos,
estou postando uma série de vídeos com interpretações que fiz
de poemas meus.


lançamentos

Amigos,
o meu livro de poemas "Retratos Falados" (Dobra Editorial, 53 pgs, 2011) será lançado em João Pessoa, no dia 10/11, uma quinta-feira, no Casarão 34, em João Pessoa; no dia 12/11, num sábado, será lançado em Campina Grande, no Cata-Livros de Ronaldo Roberto, na avenida Getúlio Vargas, a partir das 9h30, com apresentação do poeta Hildeberto Barbosa Filho.